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O Último Round de Kim Dae-hwan

Volume 1, Capítulo 1
Voltar para A Balada do Bardo Brutamontes
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Publicado em 10/05/2025
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A Balada do Bardo Brutamontes - Capítulo 1: O Último Round de Kim Dae-hwan

O aroma de carne grelhada e kimchi fermentado, que outrora acendia seu apetite voraz, agora apenas aguçava a pontada de fome em seu estômago vazio. Kim Dae-hwan fitava a vitrine iluminada do "Han Gang Grill", um restaurante que, em seus dias de glória, era seu refúgio após cada vitória sangrenta. As risadas altas e os brindes borbulhantes que ecoavam lá dentro eram um contraste cruel com o silêncio amargo que o consumia.

Ele se lembrava. Ah, como se lembrava! Das noites em que era recebido com reverências e aplausos, das garçonetes sorrindo enquanto lhe ofereciam o melhor assento da casa, das garrafas de soju importado que fluíam livremente, pagas por admiradores ansiosos por compartilhar um momento com o "Punho Relâmpago". Agora, a única coisa que compartilhava era a fria umidade da sarjeta e o olhar de desprezo dos transeuntes.

A chuva fina de Seul, implacável como um soco de um oponente determinado, encharcava seu casaco surrado, colando-o ao corpo magro. Aos 34 anos, Kim Dae-hwan parecia ter o dobro da idade. O cabelo, antes preto e lustroso, agora era salpicado de fios grisalhos, emoldurando um rosto marcado por cicatrizes de batalha e noites mal dormidas. Os olhos, outrora faiscantes com a adrenalina da luta, agora carregavam o peso da derrota e do arrependimento.

Ele desviou o olhar da vitrine, sentindo a vergonha queimar em suas bochechas. Não era mais o campeão que todos temiam e respeitavam. Era apenas um espectro, assombrando os lugares que antes lhe pertenciam.

Seus pés o arrastaram, pesados, pela rua escura. A luz fraca dos postes de iluminação lançava sombras alongadas que dançavam ao seu redor, como fantasmas de suas lutas passadas. Cada passo era uma lembrança dolorosa de sua decadência.

"Mais uma noite, Dae-hwan," ele murmurou para si mesmo, a voz rouca e cansada. "Mais uma noite para esquecer."

Ele apertou os punhos, sentindo a rigidez das juntas, a memória fantasma do impacto de seus golpes. Uma época em que suas mãos eram instrumentos de precisão, capazes de derrubar oponentes duas vezes maiores que ele. Agora, tremiam com a abstinência e o frio, incapazes de segurar nada além de uma garrafa de soju.

A lembrança de sua última luta o atingiu como um soco no estômago. Um ringue improvisado em um armazém abandonado, uma plateia de apostadores decadentes e um oponente jovem e faminto, com olhos brilhando com a ambição que ele um dia possuíra. Ele tentou usar sua velocidade, sua técnica refinada ao longo de anos de treinamento, mas era como tentar acender uma chama com lenha molhada. Seus reflexos estavam lentos, seus movimentos previsíveis. O jovem oponente o superou em velocidade e vigor, castigando-o com uma série implacável de golpes. Ele caiu, não por falta de coragem, mas por exaustão, por saber que seu corpo não era mais capaz de responder aos seus comandos.

O som dos aplausos sarcásticos da plateia ainda ecoava em seus ouvidos. A visão do jovem oponente, triunfante, cuspindo em sua direção, o humilhava mais do que qualquer golpe. Ele se levantou, cambaleando, e saiu do armazém, sentindo a amargura da derrota escorrendo por sua garganta.

As apostas. A maldição que o havia afundado. Inicialmente, era apenas uma forma de aumentar seus ganhos, um pequeno extra para desfrutar de seus luxos. Mas a ganância o consumiu. Começou a apostar mais, a perder mais, a tentar recuperar suas perdas com apostas ainda maiores. Uma espiral descendente que o levou à ruína.

Agora, devia a agiotas impiedosos, homens que não hesitariam em quebrar seus ossos para recuperar seu dinheiro. Lutar era a única maneira que ele conhecia para pagar suas dívidas, mas cada luta o deixava mais fraco, mais vulnerável.

Ele parou em frente a uma loja de conveniência, a luz fluorescente iluminando seu rosto cansado. Hesitou por um momento antes de entrar. Sabia que não deveria gastar o pouco dinheiro que tinha, mas a necessidade de anestesiar a dor era irresistível.

Pegou uma garrafa de soju da prateleira, a marca mais barata disponível, e um pacote de ramyeon instantâneo. No caixa, evitou o olhar da balconista, uma jovem de rosto gentil que sempre o tratava com uma educação forçada, como se estivesse lidando com um animal de rua.

De volta à rua, encontrou um beco escuro e se sentou no chão, encostado em uma parede fria. Abriu a garrafa de soju e bebeu um longo gole, sentindo o líquido amargo queimar sua garganta. O álcool o anestesiava, silenciando as vozes em sua cabeça, apagando as imagens de suas derrotas.

Comeu o ramyeon frio diretamente do pacote, mastigando sem sentir o gosto. A comida era apenas um combustível para mantê-lo funcionando, uma necessidade básica para sobreviver.

A cada gole de soju, a escuridão o envolvia mais profundamente. Começou a divagar sobre seu passado, sobre os dias em que era um herói, um modelo a ser seguido. Lembrou-se de seu treinamento árduo, das horas intermináveis que passava aprimorando suas habilidades, da disciplina implacável que o transformara em uma máquina de combate.

Seu mestre, um velho monge budista com mãos de aço e olhos sábios, sempre lhe dizia: "A força reside no equilíbrio, Dae-hwan. Não apenas no corpo, mas na mente e no espírito." Ele não havia compreendido essas palavras em sua juventude, cegado pela glória e pela ambição. Agora, entendia tarde demais que havia perdido esse equilíbrio, que havia se deixado consumir pela raiva e pela ganância.

O som distante de uma melodia chamou sua atenção. Vinha de um beco próximo, um som suave e melancólico que contrastava com o barulho da cidade.

Curioso, ele se levantou, cambaleando, e seguiu o som. Encontrou um velho sentado em um banco de madeira, tocando um alaúde. Seus dedos enrugados deslizavam pelas cordas com uma precisão surpreendente, criando uma música que parecia contar histórias de tempos antigos, de amores perdidos e de heróis esquecidos.

Dae-hwan ficou parado, observando-o, hipnotizado pela melodia. Era uma música triste, mas bela, que tocou algo profundo em seu coração endurecido. Era como se o alaúde estivesse expressando a dor e o arrependimento que ele carregava dentro de si.

O velho parou de tocar e olhou para Dae-hwan, seus olhos brilhando com uma sabedoria ancestral. Ele não disse nada, apenas sorriu gentilmente.

"Se ao menos eu pudesse recomeçar," Dae-hwan murmurou, as palavras escapando de seus lábios sem que ele percebesse. "Se ao menos eu tivesse uma segunda chance."

O velho continuou sorrindo, como se soubesse algo que Dae-hwan desconhecia. Ele levantou o alaúde e tocou uma última nota, um som longo e vibrante que ecoou pelo beco.

Nesse instante, uma luz ofuscante surgiu do céu, envolvendo Dae-hwan em um brilho intenso. Ele gritou, surpreso e assustado, enquanto a luz o consumia por completo.

O som do alaúde desapareceu. O cheiro de chuva e lixo foi substituído por um aroma estranho e desconhecido. O frio da noite se transformou em um calor intenso.

Ele fechou os olhos, sentindo como se seu corpo estivesse sendo despedaçado e reconstruído ao mesmo tempo.

Quando finalmente abriu os olhos, não estava mais no beco escuro de Seul. Estava em um lugar estranho e desconhecido, cercado por árvores altas e imponentes, com folhas de cores vibrantes que ele nunca havia visto antes. O ar estava limpo e fresco, com um aroma de pinho e terra molhada.

Ele olhou ao redor, confuso e desorientado. Onde ele estava? O que havia acontecido?

De repente, uma tela translúcida surgiu diante de seus olhos, flutuando no ar. Era como uma interface de computador, com letras e símbolos brilhantes que pareciam dançar diante de seus olhos.

Ele se aproximou, hesitante, e tentou tocar a tela. Seus dedos a atravessaram como se fosse feita de fumaça.

Na tela, uma mensagem em coreano antigo, elegante e formal, chamou sua atenção:

"Bem-vindo, viajante. Escolha sua classe."

Abaixo da mensagem, várias opções de classes se apresentavam, cada uma com um nome exótico e desconhecido:

  • Guerreiro
  • Mago
  • Arqueiro
  • Bardo
  • Ladrão
  • Clérigo

Dae-hwan franziu a testa, perplexo. O que era tudo aquilo? Era algum tipo de sonho? Uma alucinação causada pelo soju?

Ele não entendia nada do que estava acontecendo, mas algo lhe dizia que isso era real. Que ele havia sido transportado para um lugar diferente, um mundo governado por regras estranhas e desconhecidas.

Sem saber o que fazer, ele hesitou por um momento, observando as opções na tela. Guerreiro parecia óbvio, considerando seu passado. Mas algo o impedia de escolher essa classe. Era como se seu instinto o estivesse guiando para outra direção.

Seus olhos percorreram a lista até pararem na quarta opção: Bardo.

Um bardo? Um músico? Um contador de histórias?

A ideia era ridícula. Ele, Kim Dae-hwan, o "Punho Relâmpago", um bardo? Era como imaginar um lobo uivando melodias de amor em vez de caçar suas presas.

Mas algo o atraía para essa classe. Talvez fosse a lembrança da melodia triste do velho no beco, talvez fosse a ideia de ter uma nova chance, de começar de novo em um mundo diferente.

Sem pensar muito, ele estendeu a mão e apertou a opção "Bardo" na tela.

A tela piscou e uma nova mensagem surgiu:

"Distribua seus pontos de atributo. Você tem 10 pontos para distribuir entre Força, Destreza, Inteligência, Carisma e Vitalidade."

Dae-hwan olhou para as opções, confuso. O que eram atributos? Como ele deveria distribuí-los?

Ele não tinha a menor ideia, mas uma coisa ele sabia: a força era a chave para a sobrevivência. A força era o que o havia mantido vivo no submundo das lutas, o que o havia transformado em um campeão.

Sem hesitar, ele pegou todos os 10 pontos e os colocou em "Força".

A tela piscou novamente e uma mensagem final apareceu:

"Classe escolhida: Bardo. Atributos distribuídos. Deseja confirmar?"

Dae-hwan respirou fundo e apertou o botão "Confirmar".

A tela desapareceu e ele sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo. Era uma sensação estranha, como se algo estivesse mudando dentro dele, como se ele estivesse se tornando algo diferente.

Ele olhou para as mãos, esperando ver alguma mudança. Elas pareciam as mesmas, mas ele sentia uma força nova e poderosa fluindo por suas veias.

De repente, um objeto apareceu em sua mão. Era um alaúde, feito de madeira escura e polida, com cordas de metal brilhante. Era um instrumento belo e elegante, mas parecia estranho e deslocado em suas mãos calejadas e marcadas por cicatrizes.

Dae-hwan olhou para o alaúde, confuso. O que ele deveria fazer com aquilo? Tocar uma música?

A ideia era absurda.

Ele apertou o alaúde com força, sentindo a madeira fria em suas mãos. Uma ideia surgiu em sua mente, uma ideia ousada e inesperada.

Ele não seria um bardo comum. Ele não usaria o alaúde para tocar melodias suaves e agradar aos ouvidos.

Ele usaria o alaúde como uma arma. Ele usaria sua força para transformá-lo em um instrumento de destruição.

Kim Dae-hwan, o "Punho Relâmpago", havia renascido. Ele era o primeiro bardo brutal da história daquele mundo. E ele estava pronto para fazer sua própria balada, uma balada de sangue, suor e fúria, que ecoaria por eras.

Ele balançou o alaúde no ar, testando seu peso. Era surpreendentemente leve, apesar de sua construção aparentemente sólida. Uma pontada de excitação percorreu suas veias. Era como segurar uma extensão de seu próprio corpo, uma ferramenta forjada para um propósito desconhecido.

"Bem, vamos ver do que você é capaz," ele murmurou para o alaúde, um sorriso torto se formando em seus lábios.

Ele se virou, procurando por um alvo. Avistou uma árvore grossa a alguns metros de distância, seu tronco coberto de musgo e líquen. Era o alvo perfeito.

Dae-hwan respirou fundo, concentrando-se. Visualizou o impacto do alaúde contra a árvore, a força de seus músculos transferida para a madeira, o som da madeira rachando.

Com um grito gutural, ele avançou e golpeou o tronco da árvore com o alaúde, usando toda a força que possuía.

O impacto foi ensurdecedor. A madeira do alaúde gemeu, mas não se quebrou. A árvore estremeceu, e um pedaço de casca se soltou, revelando a madeira clara por baixo.

Dae-hwan cambaleou para trás, surpreso. Ele esperava que o alaúde se despedaçasse no primeiro golpe, mas ele resistiu. E o impacto... era como se a força de seu golpe fosse amplificada, como se o alaúde estivesse absorvendo e liberando energia.

Ele sorriu, um sorriso selvagem e predador. Ele havia encontrado sua arma.

Ele continuou a golpear a árvore, cada golpe mais forte e preciso que o anterior. A madeira do alaúde cantava sob o estresse, mas não cedia. A árvore, por outro lado, estava sofrendo. A cada golpe, mais casca se soltava, mais madeira era exposta. Pequenos galhos tremiam e caíam no chão.

Depois de alguns minutos de golpes implacáveis, a árvore estava visivelmente danificada. Um profundo entalhe havia sido aberto em seu tronco, revelando o coração da madeira.

Dae-hwan parou, ofegante, o suor escorrendo por seu rosto. Seus músculos queimavam, mas ele se sentia vivo, energizado. Ele nunca havia se sentido tão forte em anos.

Ele examinou o alaúde, procurando por sinais de dano. Havia alguns arranhões e amassados, mas nada de grave. A madeira parecia ter se fortalecido com os golpes, como se estivesse absorvendo a energia do impacto.

"Você é uma beleza," ele disse ao alaúde, acariciando a madeira com os dedos. "Uma verdadeira obra-prima."

Ele sabia que ainda tinha muito a aprender sobre aquele mundo, sobre suas regras e seus perigos. Mas ele tinha uma arma, uma força renovada e uma determinação inabalável.

Ele não era mais Kim Dae-hwan, o lutador decadente e afogado em dívidas. Ele era um bardo brutal, um guerreiro com um alaúde, pronto para enfrentar qualquer desafio que o destino lhe reservasse.

Ele se virou e começou a caminhar pela floresta, o alaúde firmemente em suas mãos. Ele não sabia para onde estava indo, mas sabia que seu destino o aguardava.

O sol começava a se pôr, lançando longas sombras pelas árvores. O ar ficou mais frio, e o som dos pássaros diminuiu gradualmente.

Dae-hwan continuou a caminhar, observando o ambiente ao seu redor. A floresta era densa e exuberante, com árvores de todos os tamanhos e formas. Havia plantas estranhas e flores coloridas que ele nunca havia visto antes.

Ele estava faminto e cansado, mas não parava. Ele precisava encontrar um lugar seguro para passar a noite, um lugar onde pudesse descansar e se preparar para o que estava por vir.

Depois de horas de caminhada, ele finalmente encontrou uma pequena caverna, escondida atrás de uma cascata. Era um lugar úmido e escuro, mas parecia seguro e protegido.

Ele entrou na caverna e encontrou um canto seco e relativamente confortável. Juntou alguns galhos e folhas secas e acendeu uma pequena fogueira. O fogo crepitava alegremente, espalhando calor e luz pela caverna.

Dae-hwan sentou-se perto do fogo, sentindo o calor em seu rosto. Ele estava exausto, mas não conseguia dormir. Sua mente estava cheia de perguntas e incertezas.

Onde ele estava? Como ele havia chegado ali? O que era aquela tela que havia aparecido diante dele? E o que significava ser um "bardo brutal"?

Ele sabia que precisava de respostas, mas não sabia onde encontrá-las. Ele estava sozinho em um mundo desconhecido, sem amigos, sem família, sem ninguém em quem confiar.

Ele olhou para o alaúde, que estava encostado na parede da caverna. Ele ainda não entendia o propósito daquele instrumento, mas sabia que ele era sua única conexão com esse novo mundo.

Ele se levantou e pegou o alaúde. Ele nunca havia tocado um instrumento musical em sua vida, mas sentiu uma estranha necessidade de experimentar.

Ele sentou-se novamente perto do fogo e começou a dedilhar as cordas do alaúde. O som era desafinado e dissonante, mas ele continuou tentando.

Depois de um tempo, ele começou a encontrar um ritmo, uma melodia simples e repetitiva. Era uma música triste e melancólica, que expressava sua solidão e sua incerteza.

Ele continuou a tocar, perdendo-se na música. Aos poucos, a melodia ficou mais complexa, mais expressiva. Ele começou a cantar junto, sua voz rouca e cansada preenchendo a caverna.

Ele cantou sobre seu passado, sobre suas lutas, sobre suas derrotas. Cantou sobre sua esperança, sobre sua determinação, sobre sua busca por um novo começo.

Enquanto cantava, ele sentiu uma conexão com o alaúde, uma compreensão do seu propósito. Ele não era apenas uma arma, mas também um instrumento de expressão, uma forma de comunicar seus sentimentos e suas experiências.

Ele continuou a tocar e cantar até que o cansaço o venceu. Ele adormeceu perto do fogo, o alaúde ainda em suas mãos.

Na manhã seguinte, ele acordou sentindo-se revigorado. O sol brilhava forte lá fora, iluminando a floresta com uma luz dourada.

Ele saiu da caverna e respirou fundo o ar fresco da manhã. Ele se sentia diferente, mais forte, mais confiante.

Ele havia passado a noite em um novo mundo, e havia sobrevivido. Ele não sabia o que o futuro lhe reservava, mas estava pronto para enfrentá-lo.

Ele apertou o alaúde com força e começou a caminhar pela floresta, em busca de seu destino.

A jornada de Kim Dae-hwan, o bardo brutal, havia apenas começado.

A floresta era um labirinto de verde e marrom, com árvores retorcidas que pareciam garras buscando o céu. O sol mal conseguia penetrar a densa folhagem, criando um ambiente úmido e sombrio. A cada passo, Dae-hwan sentia o cheiro acre da terra molhada e o sussurro constante do vento nas árvores.

Ele caminhava há horas, sem encontrar nenhum sinal de civilização. A fome começava a apertar, e a sede o deixava com a garganta seca como um deserto. Precisava encontrar água e comida, ou não sobreviveria muito tempo.

De repente, um som quebrou o silêncio da floresta. Um gemido baixo e gutural, seguido por um farfalhar de folhas secas. Dae-hwan parou, em alerta. Algo estava se aproximando.

Ele apertou o alaúde com mais força, preparando-se para o confronto. Seus sentidos estavam aguçados, cada músculo tenso e pronto para a ação.

O farfalhar de folhas se intensificou, e uma criatura emergiu da vegetação. Era uma espécie de lobo, mas maior e mais musculoso do que qualquer lobo que ele já havia visto. Seus olhos brilhavam com uma intensidade predatória, e seus dentes eram longos e afiados como facas.

A criatura rosnou, mostrando os dentes. Era um aviso. Ela estava defendendo seu território.

Dae-hwan sabia que não podia fugir. A criatura era mais rápida e mais forte do que ele. Sua única chance era lutar.

Ele respirou fundo, tentando acalmar seus nervos. Ele nunca havia lutado contra um lobo antes, mas já havia enfrentado oponentes muito mais perigosos. Ele sabia que precisava usar sua inteligência e sua força para vencer.

Ele avançou, encarando a criatura nos olhos. Não demonstrou medo, nem hesitação. Queria mostrar a ela que não era uma presa fácil.

A criatura hesitou por um momento, surpresa pela ousadia de Dae-hwan. Mas sua fome era mais forte do que seu medo. Ela avançou, lançando-se sobre ele com uma velocidade impressionante.

Dae-hwan reagiu por instinto. Levantou o alaúde e golpeou a criatura com toda a sua força, acertando-a no focinho.

O impacto foi devastador. A criatura gemeu de dor e cambaleou para trás, atordoada.

Dae-hwan não perdeu tempo. Aproveitou a oportunidade para atacar novamente, golpeando a criatura repetidamente com o alaúde. Cada golpe era uma explosão de força, cada impacto uma onda de dor.

A criatura tentou se defender, mas era muito lenta. Os golpes de Dae-hwan eram rápidos e precisos, e ela não conseguia acompanhar.

Depois de alguns minutos de luta intensa, a criatura caiu no chão, derrotada. Seus olhos estavam vidrados, e seu corpo tremia incontrolavelmente.

Dae-hwan parou, ofegante, o corpo coberto de suor. Ele havia vencido. Havia derrotado uma criatura selvagem e perigosa, usando apenas um alaúde e sua própria força.

Ele olhou para a criatura morta, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. Ele não gostava de matar, mas sabia que era necessário para sobreviver.

Ele respirou fundo e tentou acalmar seus nervos. A luta havia sido intensa, e ele precisava de um tempo para se recuperar.

De repente, um brilho surgiu ao lado do corpo da criatura. Era uma pequena esfera de luz, que flutuava no ar.

Dae-hwan observou a esfera, curioso. Nunca havia visto nada parecido antes.

A esfera se aproximou dele e se fundiu com seu corpo. Ele sentiu uma onda de energia percorrer suas veias, revitalizando-o e fortalecendo-o.

Ele se sentiu mais forte, mais rápido, mais resistente. Era como se a energia da criatura morta estivesse sendo transferida para ele.

Uma mensagem surgiu em sua mente, como um pensamento repentino e claro:

"Você ganhou experiência. Nível aumentado."

Dae-hwan arregalou os olhos, surpreso. O que estava acontecendo? O que significava "ganhar experiência" e "aumentar de nível"?

Ele se lembrou da tela que havia aparecido diante dele quando chegou àquele mundo. A tela com as opções de classes e atributos. Será que tudo aquilo era real?

Ele fechou os olhos e tentou se concentrar. Tentou acessar a tela novamente, como se estivesse abrindo um aplicativo em seu celular.

Para sua surpresa, a tela surgiu diante de seus olhos. Era a mesma tela de antes, com as mesmas opções e informações.

Ele olhou para seu nível, que agora era 2. Olhou para seus atributos, que haviam aumentado ligeiramente. Olhou para suas habilidades, que eram poucas e básicas.

Ele começou a entender. Aquele mundo era como um jogo, um RPG onde ele podia evoluir, aprender novas habilidades e se tornar mais forte.

Ele não sabia como havia chegado ali, nem por que, mas sabia que precisava se adaptar. Precisava aprender as regras daquele mundo e usá-las a seu favor.

Ele respirou fundo e abriu os olhos. Sua determinação estava renovada. Ele não era mais um lutador decadente e afogado em dívidas. Ele era um aventureiro, um explorador, um guerreiro em busca de seu destino.

E ele estava pronto para enfrentar qualquer desafio que aquele mundo lhe reservasse.

A noite se aproximava, tingindo o céu com tons de laranja e roxo. Dae-hwan precisava encontrar um lugar seguro para passar a noite. A floresta era perigosa, cheia de criaturas selvagens e outros perigos desconhecidos.

Ele se lembrou da caverna onde havia passado a noite anterior. Era um lugar úmido e escuro, mas era seguro e protegido.

Ele decidiu voltar para a caverna. Era o lugar mais seguro que conhecia.

Ele começou a caminhar de volta, seguindo seus próprios passos. O caminho era longo e cansativo, mas ele não desistiu. Ele sabia que precisava chegar à caverna antes que a noite caísse completamente.

Finalmente, depois de horas de caminhada, ele avistou a cascata que escondia a entrada da caverna. Ele sentiu um alívio profundo.

Ele entrou na caverna e acendeu uma fogueira. O fogo crepitava alegremente, espalhando calor e luz pelo ambiente.

Ele sentou-se perto do fogo e respirou fundo. Estava exausto, mas se sentia seguro. Havia sobrevivido mais um dia naquele mundo estranho e perigoso.

Ele olhou para o alaúde, que estava encostado na parede da caverna. Ele ainda não entendia completamente o propósito daquele instrumento, mas sabia que ele era sua ferramenta mais valiosa.

Ele pegou o alaúde e começou a dedilhar as cordas. O som era suave e melancólico, como um lamento.

Ele começou a cantar, uma melodia simples e repetitiva. Cantou sobre sua solidão, sobre sua incerteza, sobre sua esperança.

Enquanto cantava, ele sentiu uma conexão com o alaúde, uma compreensão do seu poder. Ele não era apenas uma arma, mas também um instrumento de cura, uma forma de aliviar a dor e a tristeza.

Ele continuou a tocar e cantar até que o sono o venceu. Adormeceu perto do fogo, o alaúde ainda em suas mãos.

Na manhã seguinte, acordou sentindo-se mais forte e mais confiante. Havia passado a noite em segurança, e estava pronto para enfrentar os desafios que o aguardavam.

Ele saiu da caverna e respirou fundo o ar fresco da manhã. O sol brilhava forte lá fora, iluminando a floresta com uma luz dourada.

Ele apertou o alaúde com força e começou a caminhar, em busca de seu destino.

Sua jornada continuava.

Dae-hwan passou os dias seguintes explorando a floresta. Ele aprendeu a caçar, a encontrar água e a identificar plantas comestíveis. Ele também aprendeu a se defender de animais selvagens e outras criaturas perigosas.

A cada dia que passava, ele se tornava mais forte, mais habilidoso e mais confiante. Ele estava se adaptando ao novo mundo e aprendendo a sobreviver.

Ele também continuava a praticar com o alaúde. Descobriu que ele podia usar o alaúde para canalizar sua energia, criando ondas de choque e outros efeitos poderosos.

Ele estava se tornando um verdadeiro bardo brutal, um guerreiro com a força de um ogro e a habilidade de um músico virtuoso.

Um dia, enquanto explorava uma área remota da floresta, ele encontrou um caminho. Era um caminho estreito e sinuoso, que parecia levar a algum lugar importante.

Dae-hwan hesitou por um momento. Ele não sabia para onde o caminho levava, nem o que o aguardava no final.

Mas ele sentia uma forte curiosidade. Queria saber o que havia além da floresta. Queria encontrar outros humanos, outros seres inteligentes.

Ele respirou fundo e decidiu seguir o caminho. Não importava para onde ele o levasse, ele estava pronto para enfrentar qualquer desafio.

O caminho o levou através de montanhas íngremes, vales profundos e rios caudalosos. A jornada foi longa e difícil, mas ele não desistiu.

Finalmente, depois de muitos dias de caminhada, ele chegou a um lugar onde o caminho se abria em uma clareira. Na clareira, havia uma pequena vila, cercada por muros de madeira.

Dae-hwan parou, surpreso. Ele não esperava encontrar uma vila tão cedo. Ele pensava que estaria sozinho na floresta por muito mais tempo.

Ele se aproximou da vila, hesitante. Não sabia como seria recebido. Talvez os moradores fossem hostis, ou talvez fossem amigáveis. Ele não tinha como saber.

Quando ele se aproximou dos portões da vila, dois guardas saíram para encontrá-lo. Eles estavam armados com lanças e escudos, e seus rostos estavam sérios e desconfiados.

"Quem é você e o que você quer?", perguntou um dos guardas, com uma voz ríspida.

Dae-hwan respirou fundo e respondeu, com uma voz calma e respeitosa:

"Meu nome é Kim Dae-hwan. Sou um viajante. Estou procurando um lugar para descansar e me abastecer."

Os guardas se entreolharam, desconfiados. Eles não confiavam em estranhos.

"Não podemos deixar você entrar na vila", disse o guarda. "Estamos em guerra com uma tribo de orcs. Não podemos arriscar deixar um espião entrar."

Dae-hwan franziu a testa, surpreso. Orcs? Guerra?

"Eu não sou um espião", disse ele. "Sou apenas um viajante. Não quero me envolver em suas guerras."

"Não importa", disse o guarda. "Não podemos correr o risco. Você deve ir embora."

Dae-hwan suspirou, desanimado. Ele esperava ser recebido de braços abertos, mas parecia que a vida naquele mundo não era tão fácil.

Ele se virou para ir embora, quando ouviu uma voz chamando-o por trás.

"Espere!", disse a voz.

Dae-hwan se virou e viu uma mulher se aproximando. Ela era alta e esguia, com cabelos longos e negros e olhos verdes brilhantes. Ela vestia uma armadura de couro e carregava uma espada na cintura.

"Eu sou Anya", disse ela. "Sou a chefe desta vila. Deixe-me falar com este homem."

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