Capítulo 421: Portas Negras
ARTHUR LEYWIN
Enquanto eu observava os outros desaparecerem um por um por outro portal — o quarto agora desde que saímos da terceira ruína djinn —, considerei o mapa mental deixado para mim por Sylvia. Apesar da minha confiança em isolar a zona correta, ainda era estranho. Diferente de todas as outras imagens na minha mente, que incluíam uma noção do que esperar na zona, esta estava vazia, nada além de uma lousa em branco intangível.
Lancei um olhar para a zona que acabáramos de limpar: um castelo sufocantemente apertado, cheio de armadilhas e monstros. Tinha sido perigoso, mas direto. O desconhecido além deste próximo portal me perturbava.
Foi o redemoinho suave da luz interna do portal que me arrastou de volta para o momento. Seja o que for que esperasse do outro lado do portal, minha irmã já estava lá sem mim. Com isso em mente, entrei atrás dela.
Apareci cercado por...nada. Absolutamente nada. Vazio, escuridão em todas as direções. E eu estava sozinho. Quando tentei chamar minha irmã, nenhum som saiu. Tentei olhar para baixo, mas não havia para baixo, nem para cima, nem eu.
Parecia quando eu apareci pela primeira vez nas Relictombs. Eu não apreciava a sensação.
“Pelo menos você ainda me tem”, a voz de Regis soou na minha cabeça. “Onde quer que eu esteja. Eu ainda posso estar dentro de você se nenhum de nós existir?”
Então, como uma cena desvanecendo-se no início de um filme antigo da Terra, a zona se materializou na minha frente.
Eu estava olhando para um chão preto liso e vidrado, para Mica, Boo e Ellie. Exceto que algo estava errado com eles. Eles estavam planos, como reflexos de si mesmos em um vidro escuro, e seus movimentos eram rígidos e antinaturais.
“El”, eu disse, minha voz soando abafada e incompleta.
Sua boca se moveu em resposta, e eu li meu nome em seus lábios, mas não consegui ouvi-la.
Eu preciso sair daqui, pensei. Senti-me flutuando para frente, e então meus pés tocaram o chão sólido.
Virando-me — eu tinha um corpo de novo, percebi —, examinei de onde eu tinha vindo. Atrás de mim, um retângulo liso de mana, com cerca de dois metros de altura e um metro de largura, pairava logo além da borda do chão onde eu agora estava. Uma forma idêntica estava a poucos metros à sua esquerda. Lyra estava espiando curiosamente para fora de sua superfície.
Ouvi meu nome sendo falado pela voz de Ellie, como um sussurro implorante vindo de uma grande distância.
Virando-me para longe de Lyra, caminhei para os outros painéis — portas, decidi mentalmente, embora, na verdade, elas se assemelhassem a uma porta física apenas em seu contorno. “Está tudo bem”, assegurei à minha irmã, alcançando e pressionando minha mão contra a superfície da porta. Ela ergueu a dela também, colocando-a onde a minha estava. “Apenas pense em sair, e você vai.”
Ela assentiu, suas feições endurecendo, o pânico diminuindo. Quando nada aconteceu, suas sobrancelhas franziram em concentração, mas ela ainda estava dentro da porta.
Regis manifestou-se ao meu lado, balançando sua juba flamejante. “Algo parece estranho.” Ele cheirou a porta, sua respiração embaçando a superfície lisa. “Talvez haja algum truque em tudo isso.”
“Éter”, eu disse, percebendo que Regis estava certo. As portas estavam envoltas em partículas etéreas. Com minha mão ainda pressionada contra a porta, enviei éter pelas pontas dos meus dedos.
Ellie apareceu imediatamente ao meu lado, cedendo em alívio. “Ugh. Isso foi realmente desconfortável.”
As portas me lembraram da zona do espelho. Lembrava-me do que aconteceu com os Granbehls, apressei-me em libertar Boo, Mica e, finalmente, Lyra da mesma forma.
Observei cada um deles por um momento, mas não parecia haver quaisquer efeitos colaterais ou estranhezas em seu comportamento, como havia sido com Ada quando ela foi possuída. E, quando eles saíram de suas respectivas portas, nenhum reflexo ou imagem foi deixada para trás.
Depois que todos estiveram livres — e eu estava convencido de que eram eles mesmos —, voltei minha atenção para nossos arredores.
Estávamos em um chão preto e liso, quase indistinguível da escuridão além. Boo manteve seu lado pressionado contra Ellie protetoramente, seus pequenos olhos olhando para o nada.
Mica rolou os ombros e estalou o pescoço, uma carranca desconfortável enrugando suas feições. “Eu me sinto...estranha. Não sei como descrever.”
“Sim, há uma sensação estranha na atmosfera aqui, como se a gravidade ou o ar estivessem errados...ou como se nós estivéssemos errados”, disse Lyra enquanto se curvava para passar os dedos pelo chão liso. “Isso é mana. Mana pura e focada. Nenhuma paisagem física.” Seus olhos traçaram uma linha na distância. “É uma plataforma. Veja ali, uma mudança sutil na escuridão?”
Movi-me para onde ela havia indicado. Ela estava certa. Estávamos em uma plataforma flutuante no vazio, um quadrado de seis metros. “Poderia haver outras que não podemos ver”, eu propus, apertando os olhos e empurrando éter para meus olhos, procurando qualquer sinal de mais plataformas. “Talvez tenhamos que navegar às cegas. Eu deveria ser capaz de...”
Ativei God Step, mas nada aconteceu. Nenhum caminho etéreo se iluminou em minha visão ou chamou sua presença para mim, e eu também não experimentei o sexto sentido expandido e inato dos meus arredores físicos. A godrune nem sequer brilhou. Era como se estivesse dormente, inacessível. Eu não conseguia senti-lo.
Regis estalou a língua em frustração. “É o mesmo com Destruição. Está lá, mas...não.”
Sem nenhuma pista do que isso poderia significar, enviei éter para Realmheart. A godrune se iluminou, as partículas de mana formando o chão brilhando como vaga-lumes multicoloridos. Além da mana da nossa plataforma e de alguma mana atmosférica persistente flutuando no vazio, Realmheart não me mostrou nada.
Mas pelo menos funcionou.
Voltando minha atenção para as portas, passei minha mão pela mais próxima, da qual eu tinha libertado Lyra. Parecia suave e sedoso, como obsidiana polida, mas havia uma sensação estática em sua superfície. “Se o éter tirou todos vocês dessas coisas...”
Enviei uma pequena quantidade de éter para a porta.
Com um solavanco repugnante, minha perspectiva mudou. De repente, eu estava olhando para trás, para meus companheiros e suas expressões surpresas.
“Está tudo bem”, eu disse, minha voz novamente soando estranha, como se eu estivesse debaixo d'água. Eu tinha certeza de que essas portas tinham algo a ver com a limpeza da zona, mas seu propósito não era imediatamente óbvio. “Só preciso de um minuto para pensar.”
Minha perspectiva estava fixa, então eu não podia olhar para o lado, nem para cima e para baixo. Eu não podia me mover de forma alguma. Como quando eu apareci pela primeira vez na zona, era como se meu corpo nem mesmo existisse. Desta porta, eu não conseguia ver nada além de meus companheiros, a plataforma e as outras portas.
A ideia de outras portas me fez hesitar. E se fossem realmente portas? Eu me perguntei. Eu tinha saído de uma porta pensando nisso. Talvez...
Concentre-me na porta em que Ellie havia aparecido e pensei: Quero passar por aquela porta.
Como antes, comecei a flutuar para frente. Por um instante, pensei que apareceria em pé na frente da porta de Lyra, como eu tinha na minha, mas em vez disso continuei flutuando, ganhando velocidade ligeiramente enquanto me movia na direção dos meus pensamentos.
Um par de segundos depois, eu saí de volta para a plataforma, mas foi pela porta de Ellie e eu estava agora em pé atrás de meus companheiros.
Boo gemeu em surpresa, pisando para frente e para trás enquanto Ellie ofegava: “Arthur!” Ela deu alguns passos hesitantes antes que Boo interviesse, empurrando-a para trás com sua cabeça larga. Ela se virou, procurando freneticamente; seus olhos passaram por mim, pararam, e então pularam para trás. Ela pressionou uma mão sobre o coração e sua expressão suavizou. “Você me assustou pra caramba”, ela reclamou, fazendo com que os outros se virassem também. Um gemido baixo e nervoso de Boo serviu para adicionar ênfase à sua angústia.
“Como você fez isso?” Lyra perguntou, seus lábios franzidos enquanto ela considerava os retângulos pretos alinhados ao longo da borda da plataforma.
Expliquei rapidamente o que eu tinha feito e minha teoria.
“Então você acha que essas — portas? — podem nos mover pela zona?” Mica perguntou. Com as sobrancelhas levantadas, ela se virou para a esquerda e para a direita, gesticulando para o vasto vazio. “E para onde?”
“Deve haver outras plataformas e portas lá fora”, insistiu Lyra, movendo-se para a borda da nossa plataforma e olhando para o nada. “É a única coisa que faz sentido.”
“Se este é um dos quebra-cabeças do djinn”, eu disse, pensativo, “então sempre há uma solução pretendida.”
Com minha mão contra a superfície fria da porta, liberei outro pulso de éter e senti-me atraído de volta para ela.
Desta vez, em vez de me deixar ser distraído pelo que estava bem na minha frente, concentrei-me no vazio ao redor da nossa plataforma. E, enquanto eu olhava sem piscar para o espaço, algo chamou minha atenção. Longe à minha direita e a algumas dezenas de metros abaixo de nós, havia uma segunda plataforma com duas portas visíveis do meu ângulo.
“Eu encontrei”, eu disse, cuidadosamente me impedindo de pensar em passar por aquela porta distante. Parecia imprudente ir e deixar os outros, especialmente se eles não conseguissem navegar pelas portas sozinhos. “Regis, você pode sentir a direção em meus pensamentos. Você consegue ver a plataforma?”
Regis correu para a beira, olhando na direção que eu indiquei. “Não há nada lá fora.”
“Talvez você só consiga ver de dentro da porta?” Ellie perguntou, batendo um dedo nos lábios pensativamente.
“Só há uma maneira de descobrir, Regente Leywin”, disse Lyra, virando-se para longe de mim para observar na distância, seguindo a linha de foco de Regis.
Hesitei, mas apenas por um momento. Embora eu não gostasse de deixar os outros para trás, este parecia ser o caminho claro a seguir. Com um pensamento, eu estava flutuando pelo espaço vazio em direção à porta mais à esquerda das duas que eu podia ver. Como antes, ganhei velocidade lentamente enquanto me movia, mas não foi rápido. Uma estranha premonição se construiu dentro de mim enquanto eu me aproximava cada vez mais da segunda plataforma, mas eu não tinha certeza se era algum truque das Relictombs ou minha intuição tentando me avisar sobre algum perigo invisível.
Vinte segundos ou mais se passaram antes que eu pisasse no chão sólido novamente. A luz difusa e sem fonte da zona iluminou esta plataforma muito menor, e eu não pude deixar de me perguntar por que eu não a tinha visto imediatamente.
‘Ah, ei, nós te vemos’, Regis pensou. ‘A plataforma meio que apareceu um segundo antes de você.’
Olhando para trás, eu podia apenas distinguir os outros — Boo, de longe, o mais óbvio — em pé ao longo da borda de sua plataforma, talvez a cem metros de distância.
Entre mim e meus companheiros, o vazio escorria, como sombras se movendo dentro de sombras.
Achei que estava imaginando, até que uma mão com quatro dedos e garras alcançou o vazio e agarrou a plataforma, cavando no painel preto e plano de mana. Uma segunda garra seguiu, e, muito lentamente, braços finos se formaram, arrastando uma criatura horrivelmente magra para fora do fundo preto e para a realidade bem na minha frente.
Seus ossos se projetavam em cristas afiadas contra a pele preta e brilhante que se misturava à escuridão atrás dela. O rosto plano não tinha boca nem nariz, mas quatro olhos fora do lugar. Ao se desenrolar de sua posição agachada, eu me vi olhando para ela; a criatura tinha pelo menos dois metros de altura.
Ela piscou, cada olho fechando e abrindo ligeiramente fora de sincronia com os outros. Então ela avançou, arranhando meu estômago.
Eu entrei no golpe, conjurando uma lâmina de éter na minha mão esquerda. As garras do monstro cavaram na minha lateral sob minhas costelas, cortando a barreira etérea que cobria minha pele.
Minha espada perfurou seu peito ósseo, depois rasgou para cima e para fora do lado do pescoço. Seus olhos rolaram em quatro direções diferentes quando ela tombou, e quando atingiu o chão, ela se dissolveu na plataforma sob meus pés.
Pressionando uma mão na minha lateral, verifiquei a ferida; estava cicatrizando rapidamente, como esperado. Pelo menos esse poder está funcionando.
‘Sabe, nós vimos muita merda aqui dentro, mas essa coisa foi indutora de pesadelos’, disse Regis através de nosso elo telepático.
“Isso vai ser um problema”, eu disse para mim mesmo, considerando os obstáculos que essa zona apresentava. Tudo ainda está limpo por lá?
‘Sim’, ele confirmou, ausente de sua atitude normal e leviana.
Retornar aos outros funcionou da mesma forma: a sensação chocante de flutuar desencarnado pelo espaço, as sombras ondulando como se o próprio vazio estivesse vivo, antes de eu finalmente sair da porta de Ellie na plataforma inicial. Procurei a plataforma distante, mas ela se foi.
“Isso vai levar algum tempo e erro”, eu disse, explicando o que eu tinha aprendido aos outros.
Mica saltou para a frente, olhando para mim com determinação sombria. “Eu vou primeiro.”
Eu a tinha libertado da porta imbuindo-a com éter, e tentei colocá-la de volta da mesma forma. Com a mão de Mica pressionada contra a mesma porta que eu tinha usado, enviei um pequeno pulso de éter para a superfície.
Com certeza, Mica desapareceu da plataforma, reaparecendo dentro da porta como um retrato em movimento de si mesma.
“Agora, você consegue ver a outra plataforma? Pense em sair por uma daquelas portas”, instruí.
Ela assentiu, mas nada aconteceu. Considerando o que já sabíamos, presumi que o éter era o problema. Ela não conseguia se mover da mesma forma que não conseguia se libertar. Mas eu pensei que já sabia a solução para isso.
Confirmei que ela estava focada na porta distante, então imbuí éter na porta novamente.
Mica apareceu bem na minha frente. Seu rosto subiu, depois caiu novamente quando ela percebeu onde estava. “Não funcionou.”
“Talvez você não estivesse focada o suficiente”, disse Lyra, cruzando os braços.
“Ou talvez o portal seja racista contra anões”, Regis murmurou, tirando uma risada de minha irmã.
O olho de Mica se estreitou, mas eu me coloquei entre eles. Eu não tinha paciência para uma discussão.
Ela se concentrou em mim, em vez disso, limpando a garganta. “Eu estava cem por cento focada. Tem que ser outra coisa. Embora, se o Professor Relictombs Sabe-Tudo quiser tentar, fique à vontade.”
“Vale a pena ser exaustivo”, eu disse, acenando para Lyra ir em frente.
Ela passou pela porta facilmente, mas, quando eu a imbuí pela segunda vez, ela também saiu de volta para nossa plataforma. A única vantagem foi que nenhum monstro apareceu para nos atacar enquanto estávamos na plataforma inicial. No entanto, não estávamos chegando mais perto de progredir pela zona.
“Agora que sabemos que existem outras plataformas lá fora, por que não voamos por aí?” Mica perguntou, indo para a borda da nossa plataforma. “Eu não consigo mais ver, mas você estava bem ali em algum lugar.”
Sem esperar uma resposta, ela se levantou do chão e voou para o vazio. No momento em que ela cruzou a borda externa da nossa plataforma, um braço fino e com garras pretas se coagulou do nada e envolveu sua garganta. Uma segunda rasgou seu rosto, cortando sua mana protetora com facilidade, enquanto mais duas agarraram seus tornozelos.
Eu agarrei a parte de trás de sua armadura e a puxei para a plataforma.
Três das criaturas vieram com ela.
Imbuindo minha mão com éter, atingi o que estava a sufocando na lateral da cabeça. Ao contrário da outra, esta não tinha olhos, apenas uma boca aberta cheia de dentes serrilhados e rangentes. O crânio desabou, espalhando um ícora escuro sobre Mica e mim.
Mica chutou com força, estilhaçando a clavícula de outro. Flechas gêmeas brotaram da terceira, uma na garganta e outra em seu único olho fora do centro.
Libertando-se do meu aperto, Mica conjurou seu martelo e começou a balançar.
Eu dei um passo para trás. O martelo grande demais fez um trabalho rápido dos restos dos monstros, esmagando-os em uma pilha de ossos negros encharcados. Assim que ela se afastou, respirando com dificuldade, os três cadáveres se dissolveram.
Ela afastou o cabelo do rosto quando se virou. “Talvez voar seja...não seja uma ótima ideia.”
“Parece que o djinn pretende que um certo caminho seja seguido para navegar pela zona”, comentou Lyra, erguendo as sobrancelhas e olhando para mim. “Seu caminho. O qual, devo dizer, para o resto de nós, é bastante infeliz.”
“Tem que haver um caminho”, eu disse, indo para uma das portas e olhando para ela. “Nós só temos que encontrá-lo.”
***
Uma hora e várias experiências depois, e ainda não tínhamos nos movido além da primeira plataforma. Mas tínhamos aprendido algumas coisas sobre a zona.
Eu não podia viajar além da segunda plataforma. Eu podia ver uma terceira, mas não podia me mover para ela. Parecia que mãos fortes estavam me segurando, e minha teoria de trabalho era que a zona só me permitiria mover uma plataforma além de meus companheiros. Embora eu esperasse ir até o fim e ver se ativar o portal de saída libertaria os outros do purgatório da primeira plataforma, essa não era uma opção.
Qualquer tentativa de cruzar o vazio resultava em um ataque imediato. Quanto mais Lyra ou Mica ficavam lá fora — quanto mais longe tentavam empurrar — mais criaturas se apegavam a elas, rasgando e mutilando com garras capazes de rasgar mana e éter igualmente.
Eu até tentei enviar um raio de éter de uma plataforma para outra, mas o éter se dissipou antes de atingir seu alvo, absorvido de volta na zona.
E, enquanto alguém estivesse na segunda plataforma, os monstros horríveis continuavam aparecendo, deslizando para fora do vazio um após o outro.
“É muito estranho”, Lyra refletiu, andando para frente e para trás pela plataforma enquanto repassávamos nossas ideias pela terceira vez. “Eu me sinto estranha. Alguém mais notou?”
“Sim”, respondeu Mica, batucando os dedos na plataforma enquanto se apoiava nos cotovelos. “Eu não consigo colocar o dedo nisso exatamente, mas tudo isso” — ela gesticulou para o torso — “não é do jeito que deveria ser. Isso me lembra de como eu me senti na primeira manhã em que acordei sem meu olho.”
Lyra assentiu. “Exatamente.”
Ellie puxou os joelhos para o peito e os abraçou, parecendo nervosa. “As pessoas alguma vez ficam...presas nas Relictombs?”
Boo rugiu, cutucando seu ombro com o nariz para confortá-la.
“Nós não estamos presos”, eu disse firmemente. “Nós só não fizemos a conexão certa ainda. Eu estive em várias zonas onde a solução não era imediatamente óbvia—”
“Arthur!” Ellie disse, saltando para os pés. “Uma conexão!”
Eu olhei para ela por um momento, sem saber o que ela queria dizer.
“Minha forma de feitiço — a ligação!” Quando eu ainda não entendi, ela girou em um círculo e puxou o cabelo em exasperação enquanto procurava as palavras que procurava. “Minhas flechas, talvez possamos fazer uma conexão de alguma forma, sabe, entre portas...”
Minhas sobrancelhas franziram em uma carranca incerta, e ela parou, perdendo a confiança.
“As portas exigem éter, El”, eu disse, pensando em voz alta, “e o vazio provavelmente quebraria suas flechas antes que elas pudessem chegar a outra plataforma.” Ela olhou para os pés, mas eu estava começando a ver através de suas palavras a intenção por trás delas, e continuei fazendo um brainstorming. “Mas sua forma de feitiço pode ser suficiente para manter a forma da mana intacta e sob seu controle enquanto ela passa pelo vazio...”
Mica sentou-se e cruzou as pernas, apoiando os cotovelos nos joelhos e se inclinando para a frente. “Mas como isso nos ajuda?”
“Não ajuda, a menos que eu possa imbuir éter na flecha de Ellie.”
“Mas...a plataforma não está lá”, Lyra apontou.
Amaldiçoando, percebi que ela estava certa. Eu teria que ir primeiro, abrindo a porta, por assim dizer.
“Mas você tem que estar aqui para enviar todos através”, disse Regis, indo para a porta. “Vai ter que ser eu. Eu vou em frente para ativar o próximo portal.”
“Você vai ser atacado o tempo todo”, eu apontei.
Ele inchou o peito, e sua juba flamejante brilhou intensamente. “Talvez você tenha esquecido porque tem olhado para meu belo rosto por tanto tempo, mas eu sou uma arma-deus, lembra?”
Eu o observei por um longo momento, então balancei a cabeça. “Se isso funcionar, Mica estará logo atrás de você como reforço. Supondo que você esteja disposta a testar isso?” Eu perguntei, encontrando seu olhar.
Ela flutuou para cima, com os pés, com um encolher de ombros. “Melhor do que ficar sentado no meu polegar por mais tempo, não é?”
“Adios, muchachos”, disse Regis antes de pressionar o nariz contra a porta e desaparecer dentro dela. Senti minha conexão com ele desaparecer, e sabia que ele estava dentro da rede de portas, flutuando em direção à próxima plataforma.
Esperamos alguns segundos antes que Mica pressionasse sua mão contra a porta. Eu a imbuí com éter, mas nada aconteceu. Ela não foi puxada para dentro.
“Talvez porque já esteja em uso?” Lyra perguntou.
“Isso vai desacelerar as coisas”, disse Mica, observando o pedaço escuro do nada na distância, onde Regis logo apareceria.
“Esteja pronta. Precisamos nos mover rápido.”
Vários segundos muito longos depois, a plataforma se iluminou quando Regis apareceu na frente de uma das portas. Mica ainda estava tocando a porta, então não perdi tempo em enviá-la.
Ellie conjurou uma flecha. “E agora?”
Ativando Realmheart, enrolei minha mão em torno da flecha e enviei uma pequena quantidade de éter, o éter e a mana mudando ligeiramente para se misturarem. Olhei para a flecha e senti uma carranca surgindo no meu rosto.
“Vai apenas sangrar. Precisa ser—”
As partículas de mana se moveram, deixando uma espécie de reservatório na cabeça da flecha que seria completamente cercado pela mana de Ellie.
“—assim”, eu disse, movendo o éter. Concentrei-me em empurrá-lo pela camada externa de mana até que estivesse totalmente protegido dentro.
Ela levou algum tempo para configurar o tiro. Era um longo caminho para a porta que ela estava mirando.
Dessa distância, eu não consegui ver o monstro se formando para atacar Regis, mas foi óbvio quando ele o fez. Regis, brilhando como uma joia roxa, saltou sobre uma silhueta sombria e a despedaçou.
A flecha de Ellie seguiu pelo escuro como uma estrela cadente, atingindo a porta distante com um baque silencioso, mas satisfatório. Ela se virou para mim e sorriu.
“Agora, a outra”, eu disse, e repetimos o processo, a segunda flecha infundida com éter de Ellie grudando no canto inferior da porta de Mica.
“Não exagere”, eu avisei.
Ellie me dispensou, fechando os olhos. “Eu não vou.”
Seus olhos se moveram para frente e para trás sob as pálpebras por alguns segundos, então, com uma explosão suave de mana, ambas as flechas detonaram simultaneamente.
Eu prendi a respiração.
Mica desapareceu da porta. Quando ela não apareceu imediatamente na nossa frente, corri para a beira, espiando na escuridão. Regis tinha um segundo monstro pelo braço, sacudindo-o violentamente. Sua dor irradiava através de nosso elo quando sua outra garra rasgava a carne de suas costas, mas também sua intensidade. Ele arrancou o braço e cuspiu no chão, então saltou, batendo no horror esquelético no peito com ambas as patas e levando-o ao chão. Finalmente, suas mandíbulas se fecharam em sua garganta, e ela se dissolveu sob ele.
Quando Mica saiu da porta alguns segundos depois, com seu martelo já na mão, ela entrou em ação, lutando lado a lado com Regis quando outro monstro saiu do vazio.
“Woohoo!” Ellie exclamou, pulando e levantando uma mão para Boo, que gentilmente a encontrou com a pata em uma espécie de high-five.
Soltei um suspiro de alívio, mas, com o mistério de como mover meus companheiros pela zona resolvido, senti uma ansiedade para atravessá-la o mais rápido possível crescendo dentro de mim. “Vamos enviar Boo em seguida, só para ter certeza de que vai funcionar para ele também.”
Ellie se recompôs ligeiramente quando trocou um olhar com o urso guardião. Mas quando Boo pressionou uma pata contra a porta, eu consegui mandá-lo para dentro, e o truque de Ellie com a flecha infundida com éter funcionou como esperávamos. Com Regis, Mica e Boo na plataforma distante, os horrores que se manifestavam continuamente foram derrubados um por um.
Lyra foi a seguir. Não foi até que apenas Ellie e eu restássemos que percebemos a falha em nossa técnica.
“Então...como você acha que eu chego lá?”
“Atire suas flechas, mas não as faça explodir. Então eu vou te enviar para a porta”, eu sugeri.
Encolhendo os ombros, Ellie trabalhou comigo para infundir duas flechas, atirando uma na porta em nossa plataforma e a outra na plataforma distante onde os outros estavam lutando por suas vidas. Feito isso, ela pressionou uma mão contra o retângulo escuro de mana, que eu imbuí com éter.
Ela desapareceu. E no instante em que ela fez, sua conexão com as flechas foi cortada, fazendo com que elas se despedaçassem com um leve estouro.
A imagem de minha irmã desapareceu da porta na minha frente. Foi com uma crescente sensação de inquietação que esperei que ela aparecesse do outro lado, observando os outros derrubarem mais dois horrores. Não foi até que ela finalmente saiu da porta distante que consegui relaxar e segui-la.
Quando eu saí do portal, meus companheiros haviam formado um anel protetor em torno de Ellie. Seu arco estava esticado, uma flecha brilhante de mana contra a corda, e quando um monstro esquelético se arrastou para fora da escuridão, ela soltou a flecha. Houve uma rachadura seca, e a cabeça do monstro se inclinou para trás quando a flecha perfurou seu crânio. Lentamente, ela caiu de volta no vazio, desaparecendo.
“Tudo bem, Regis, vá para a próxima plataforma”, eu ordenei, indo para o lado de Ellie.
Regis não perdeu tempo com brincadeiras, desaparecendo primeiro em uma porta no lado oposto da plataforma, depois da porta também.
Uma longa cauda quitinosa com um ferrão semelhante a um escorpião na ponta desceu do vazio quando outro monstro apareceu. Lyra desviou o ataque com uma explosão de vento, e Ellie enviou uma flecha em seu peito. Ela caiu de quatro, se debatendo como um inseto. Mica derrubou seu martelo em sua cabeça, mas ele se afastou erraticamente, e seu martelo tocou o chão.
A cauda balançou selvagemente, chicoteando como um fio elétrico solto. Eu puxei Ellie para baixo com uma mão enquanto conjurava uma lâmina na outra, cortando a pele preta e brilhante e escura no mesmo movimento, cortando o apêndice mortal. Boo saltou sobre o monstro, esmagando-o sem vida.
Na distância, vi a próxima plataforma aparecer, seguida um segundo depois por Regis.
“Mica, vá”, eu ordenei, correndo para a porta. Ela me encontrou lá, e eu a enviei com um pulso de mana. “Ellie!”
Enquanto Boo e Lyra trabalhavam para encurralar um novo horror — este com quatro braços arranhando e duas bocas onde seus olhos deveriam estar, cada uma cheia de dentes semelhantes a agulhas — Ellie se desengajou, conjurando uma flecha com um reservatório para meu éter em sua cabeça. O próximo monstro a aparecer rastejou para fora do vazio bem ao nosso lado quando enviei meu éter para a flecha, e suas garras afundaram em meu ombro.
Vibrações ondularam visivelmente no ar, tão fortes que senti minha pele formigar, e o monstro desabou, soltando um grito horrível. Eu pisei com força, e o barulho cessou.
Ellie atirou a flecha primeiro na plataforma distante. Quando atingiu seu alvo, repetimos o processo com a porta de Mica. Ellie não perdeu tempo em explodir as flechas e liberar o éter contido. Com a conexão formada, Mica desapareceu.
“Isso vai ficar difícil”, eu disse no silêncio momentâneo entre os ataques.
Boo estava pronto no momento em que Mica passou pela outra porta, e eu o enviei. Desta vez, trabalhei com Ellie com uma mão enquanto segurava minha lâmina na outra. Com apenas Lyra na plataforma conosco, defender Ellie se tornou minha prioridade inteira.
Mas estávamos ficando mais rápidos. Apenas um monstro apareceu, e foi subsequentemente derrubado, antes que Boo estivesse a caminho.
“Nós podemos fazer isso”, disse Lyra com firmeza, parada perto da porta, algum feitiço sombrio crepitando em suas pontas dos dedos enquanto esperávamos. Quando o próximo horror escorreu para fora da escuridão um momento depois, seu feitiço colidiu com ele, enviando-o voando para fora da plataforma e fora de vista.
Então foi sua vez. Ela nos observou nervosamente de dentro enquanto Ellie se apressava para formar suas flechas, e eu as enchi com éter. Quando um horror de duas cabeças se arrastou para a plataforma, reabsorvi a lâmina, focando-a em um único ponto na minha mão antes de liberá-la como uma explosão etérea.
O horror de duas cabeças se esquivou para o lado e se lançou em Ellie.
Com uma flecha infundida com éter já em sua corda, ela ajustou sua mira e soltou. Em vez de se curvar em direção à próxima plataforma, a flecha atingiu a monstruosidade no estômago. Então, explodiu.
O monstro foi despedaçado por dentro, cobrindo nossa plataforma com sangue negro, que choveu ao nosso redor com um respingo pesado e molhado.
Sem perder o ritmo, Ellie conjurou outra flecha e a estendeu para mim. Ao nosso lado, um pedaço de lama negra escorria pelo rosto bidimensional de Lyra.
Depois que Lyra se foi e Ellie estava dentro da porta, eu me senti melhor. Eu tinha completamente esquecido de acompanhar o progresso do outro grupo na terceira plataforma, mas os pensamentos de Regis estavam cheios do brilho da batalha e do sucesso. Despachei mais dois monstros antes de poder pular eu mesmo.
“Merda”, disse Regis um minuto depois, saindo de uma porta na terceira plataforma, que era grande com várias portas alinhando cada borda. Ele tinha acabado de tentar várias portas em busca do caminho a seguir. “Existem três plataformas.” Desviando de uma garra, Regis arrastou um monstro atacante com seus braços e cabeça nas posições erradas em seu torso. Quando terminou, ele perguntou: